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O OUTRO DA FOTO


“NEGONA”[1], trajetórias de empoderamento de uma mulher

 

Vanderlay Santana Reina[2]

 

Resumo: O movimento feminista das “diferenças” tem feito afirmações nos estudos e produções científicas, sobre a questão racial no movimento de mulheres, internacional e no Brasil. A partir dessa perspectiva, pretendemos revelar a experiência de uma “mulher” entre tantas, submetida à discriminação de gênero e interseccionalidades de classe social, raça, cor, localização e geração. São diferenças que alteram projetos de vida, fazendo diferença em mulheres que se confrontam com a discriminação. É relevante neste estudo aprofundar essas reflexões, pois elementos diferenciais podem criar marcas, gerando vulnerabilidades que afetam algumas mulheres, minando as suas possibilidades de empoderamento. Apresentamos a história de vida de uma mulher negra, nos anos 80, jovem, com 21 anos, recém-saída da Escola Técnica Federal da Bahia, na busca do primeiro emprego. A entrevistada teve a sua pretensão obstaculizada por dois marcadores: a identidade de gênero e raça – mulher e negra. Esses marcadores parecem permanentes ainda hoje, nas práticas de discriminação em Salvador. Adotamos como caminho teórico metodológico feminista, Stand Point cujas reflexões, contribuem para o/a pesquisador/a reconhecer-se como sujeito/objeto de um contexto íntimo, passando a questionar as situações vividas, possibilitando novas elaborações críticas e até reflexões científicas e políticas.

 

Palavras-chave: Mulheres; Relações de gênero; Raça; Interseccionalidades, Gerações.

 

“NEGONA” trajectories of empowerment of a woman


Vanderlay Santana Reina



Summary: The feminist movement of the "differences" has made ​​statements in the studies and scientific productions, on the  issue of race in the international  women's movement , as well as in Brazil. From this perspective, we intend to reveal the experience of a "woman" among many, subjected to gender discrimination, and intersectionality: social class, race, color, location, and generation. These are differences that alter life projects, making a difference in women who face discrimination. The relevant in this study is to deepen these reflections as differential elements can create, creating vulnerabilities that affect some women, undermining their chances of empowerment. Here is the history of  life of a black woman, in 80s, 21 years old, just graduated from  the Federal Technical School of Bahia, in search of their first job. The interviewee had her claim hindered by two markers: gender identity and race- female and black. These permanent markers are seen today in the practice of discrimination in Salvador. We adopt as a way  the feminist theory and method, Stand Point whose reflections, contribute to the researchers to recognize themselves as subject / object of an intimate context, going to question the situations experienced, certainly enabling new elaborations criticism and even scientific and political reflections.


Keywords: Women; Gender relations; Intersectionality; Race; Generations.

 

 




[1] Negona é uma expressão usada na linguagem popular para dar significado as mulheres negras empoderadas.
[2]Assistente Social, Mestre em Família na Sociedade Contemporânea  pela Universidade Católica do Salvador. Aluna especial do Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo (PPG-NEIM), Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil.
 

3 comentários:

  1. A fotografia mostra que ela sempre se coloca no lugar do outro. A fotografia nada mais é que o outro.
    O álbum de família tem por função conservar varias vezes o anunciado pela foto ou por outros meios. Compete a foto mostrar o que já foi dito: o casamento dos pais; que a família vive feliz; repetir uma ação etc. Sua interlocução é legitima porque cada foto diz que o que se representa ali já passou, confirma-o pela foto seguinte e torna a mostrar o mesmo rito em outra fotos, para confirmar que não há novidade possível. Assim o tempo do álbum se torna circular.
    O outro na foto tem tripla acepção:
    1. Primeiro como o escolhido para ser preservado na memória (mãe, filho, esposa) e que me diz respeito uma vez que é enunciado pelo narrador do álbum.
    2. Segundo como interlocução – ou seja, a possibilidade de diálogo e comunicação entre quem, por ser posto no mesmo álbum, deve dialogar entre si: inter-relação entre uma foto e outra ou entre os que posam na mesma cena.
    3. E em sentido mais analítico, o outro como aquilo que me faz mostrar o que já está em mim. Se mostro algo, ao mesmo tempo deixo de mostrar outra coisa, então o Outro de meu inconsciente constitui aquilo que faz do álbum ser o desejo de família: o imaginário coletivo de um grupo, a família, que se representa dessa forma, mas também se apaga.

    O álbum nasce e é filho da foto e do retrato pictórico. Rompe as estruturas do texto verbal ou artístico tradicional: gera a própria lógica imaginária. O álbum de família anuncia-se do outro lado da foto, isolada, como tempo historiado e ritualizado, como olhar para o futuro. O álbum é foto apenas pela metade; a outra metade se deve a quem o coleciona e o conta. E a fotografia se transforma em rito. E se é rito, É para ritualizar todo o seu saber, desde a tomada da foto, escolha, organização, posição. A originalidade da observação do álbum é que a foto existe para ser falada. E se o álbum é rito, é memória de acontecimentos que passaram pelo processo seletivo posto no tempo. Portanto memória e esquecimento agem de maneira dialética. Assim o álbum é marcado pela memória, mas também por palavras, consciência, inconsciência e impressão. Quando a família abre um álbum contá-lo, reinstala ali mesmo seu imaginário de eternidade, evocando o tempo passado em um presente continuo; como se estivesse ocorrendo agora, sem intervalo entre o antes e o presente.

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  2. “NEGONA” , trajetórias de empoderamento de uma mulher

    Vanderlay Santana Reina

    Resumo: O movimento feminista das “diferenças” tem feito afirmações nos estudos e produções científicas, sobre a questão racial no movimento de mulheres, internacional e no Brasil. A partir dessa perspectiva, pretendemos revelar a experiência de uma “mulher” entre tantas, submetida à discriminação de gênero e interseccionalidades de classe social, raça, cor, localização e geração. São diferenças que alteram projetos de vida, fazendo diferença em mulheres que se confrontam com a discriminação. É relevante neste estudo aprofundar essas reflexões, pois elementos diferenciais podem criar marcas, gerando vulnerabilidades que afetam algumas mulheres, minando as suas possibilidades de empoderamento. Apresentamos a história de vida de uma mulher negra, nos anos 80, jovem, com 21 anos, recém-saída da Escola Técnica Federal da Bahia, na busca do primeiro emprego. A entrevistada teve a sua pretensão obstaculizada por dois marcadores: a identidade de gênero e raça – mulher e negra. Esses marcadores parecem permanentes ainda hoje, nas práticas de discriminação em Salvador. Adotamos como caminho teórico metodológico feminista, Stand Point cujas reflexões, contribuem para o/a pesquisador/a reconhecer-se como sujeito/objeto de um contexto íntimo, passando a questionar as situações vividas, possibilitando novas elaborações críticas e até reflexões científicas e políticas.

    Palavras-chave: Mulheres; Relações de gênero; Raça; Interseccionalidades, Gerações.

    “NEGONA” trajectories of empowerment of a woman

    Vanderlay Santana Reina


    Summary: The feminist movement of the "differences" has made statements in the studies and scientific productions, on the issue of race in the international women's movement , as well as in Brazil. From this perspective, we intend to reveal the experience of a "woman" among many, subjected to gender discrimination, and intersectionality: social class, race, color, location, and generation. These are differences that alter life projects, making a difference in women who face discrimination. The relevant in this study is to deepen these reflections as differential elements can create, creating vulnerabilities that affect some women, undermining their chances of empowerment. Here is the history of life of a black woman, in 80s, 21 years old, just graduated from the Federal Technical School of Bahia, in search of their first job. The interviewee had her claim hindered by two markers: gender identity and race- female and black. These permanent markers are seen today in the practice of discrimination in Salvador. We adopt as a way the feminist theory and method, Stand Point whose reflections, contribute to the researchers to recognize themselves as subject / object of an intimate context, going to question the situations experienced, certainly enabling new elaborations criticism and even scientific and political reflections.

    Keywords: Women; Gender relations; Intersectionality; Race; Generations.


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  3. MOVIMENTO SINDICAL: REBATIMENTO NA “HISTORIA DE VIDA” DE UMA MULHER

    Vanderlay Santana Reina

    Este estudo tem como propósito apresentar a “‘historia de vida” de uma sindicalista na perspectiva de examinar como gênero, classe social nas interccionalidades de idade/geração explicam as trajetórias e experiências de as mulheres no movimento sindical. Para isso, tomamos como referencias as lutas engendradas entre a década de 80 a 90 do século passado. Este período é considerado relevante recorrente de vários fenômenos como: a saída da ditadura militar, a redemocratização do país e acesso de as mulheres ao mercado de trabalho. Trazer a análise da trajetória e da experiência da mulher trabalhadora no sindicato, tomando a categoria analítica “gênero”, permite dar significado e empoderamento a categoria “mulher”, não se podendo negar a sua importância por permitir no bojo da sua historia a apropriação do caráter histórico da ideologia patriarcalista. A pesquisa qualitativa tem buscado encontrar respostas “insight” no retorno às peculiaridades dos sistemas locais, dos casos concretos, nas suas particularidades, espaços e temporalidades. Optou-se por um estudo de caso, “historia de vida” como método através da trajetória sindical de uma mulher do interior da Bahia. Trata-se de uma mulher trabalhadora, sindicalista, delegada sindical, ex-militante do Sindicato dos Eletricitários da Bahia, 21 anos. Trazer parte da história de vida de uma mulher no sindicato suscita questões na transitoriedade impactante da presença da mulher: gênero, raça/etnia e classe social. Contudo, não se descarta que no bojo das interseccionalidades com idade/geração são consideradas elementos estruturadores da vida social. Este estudo empírico traz a voz e o registro da experiências das mulheres trabalhadoras, ausentes da historicidade social no Brasil.

    Palavras-Chave: Gênero; Geração; Movimento Sindical.


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